>
As operadoras de telefonia celular Oi, TIM e Claro estão proibidas de vender novos chips (linhas novas) desde segunda-feira, 23. Desde então, trava-se uma verdadeira guerra de informação. No noticiário e nas páginas inteiras de propaganda institucional que as empresas passaram a publicar para pressionar a Anatel no sentido de rever ou atenuar a punição.
Ocorre que Reino Unido e Brasil tem cerca de 82.000 estações rádio-base (as antenas que permitem a telefonia celular), mas enquanto naquele país há cerca de 82 milhões de linhas celulares, no Brasil a mesma base de antenas tem que dar conta de mais de 250 milhões de linhas - e com as distâncias continentais brasileiras. É certo, pois, que a Anatel demorou muito para agir, mas, agora, agiu certo.
As empresas 'chiam'.
Ontem pude ver os 'institucionais' da TIM e da Claro. Parecem que essas empresas estão noutro país e noutra situação - não sob uma penalização da agência reguladora no Brasil por péssima qualidade dos serviços prestados. Se essas operadoras tivessem relações-públicas bem formados como responsáveis técnicos por tais comunicados institucionais, não fariam o tipo de discurso vazio de conteúdo e cheio de cifras de 'investimento' e clamor por 'transparência' que o usuário de telefonia celular no Brasil nem entende.
Para quem falam essas peças de propaganda institucional?
Para o governo? Para 'formadores de opinião'? Para os veículos de comunicação - comprando-os com mídia cara de páginas inteiras e minutos de horário nobre?
Para o usuário de celulares é que não é. Um comunicado nessa hora de crise só poderia ter um conteúdo, e sem Fernanda Lima: um quadro com as datas (e endereços) de instalação de estações rádio-base nos próximos 30, 60 e 90 dias - ao final do qual, aí sim, a Anatel poderia avaliar se retira a suspensão de vendas de novos chips. Papo furado do tipo 'a empresa estará investindo Z bilhões até 2014' é criminoso do ponto-de-vista da comunicação institucional.
Caso para o Ministério Público - a 'grande novidade' trazida pela Constituição Federal de 1988.
Qualificar esse tipo de ilícito é que deve ser o macro-objetivo do Sistema Conferp-Conrerp. Aí, e só aí, talvez, o cidadão comum comece a entender que tem algum órgão do Estado que atua em SUA defesa e não em defesa dos 'robber barons' que tomaram de assalto as comunicações no Brasil (televisão, rádio, telefonia e internet), sob um marco regulatório já podre de velho. No Rio de Janeiro, o Conrerp já iniciou um contato como Ministério Público para tornar o Conselho um órgão consultivo do MP nos casos de comunicação institucional enganosa, parcial e indutora do cidadão a erro.
Para finalizar - sobre o tema 'fiscalização'.
Veja-se o noticiário deste sábado, 28. A todo-poderosa agência reguladora da saúde (ANVISA) recuou e poderemos, novamente, automedicar-nos à vontade nas farmácias e drogarias.
Analisem a dificuldade que é, no Brasil, fiscalizar o que quer que seja. Estou convencido que a par da fiscalização - que é necessária e insubstituível - no que temos que investir pesado é na educação cidadã, em todos os sentidos. Há que se querer trabalhar direito e não nas brechas aqui e ali. É no trânsito, é no plano de saúde, é na vigilância sanitária. Em tudo.
Quando vamos a um médico, ou psicólogo, ou veterinário nunca pedimos para ver os seus registros profissionais. No passado se via um diploma na parede, hoje nem isso... O que passa em nossa cabeça? Confiamos que aquele médico, aquele psicólogo, aquele veterinário são pessoas bem formadas e éticas.
O mesmo se deve aplicar ao errepê.
Não é possuir a 'carteira' o que interessa. Importa é que a área é regulada. Em prol do cidadão. Podemos fazer parte do grupo que age corretamente e amparado por legislação específica. E quando trabalhamos dentro dos nosso ditâmes éticos, damos garantia aos cidadãos de que estamos praticando a melhor comunicação institucional possível.
Outro caso - o parto 'em casa'.
Vejamos, também, a polêmica iniciada esta semana pela portaria do CRM contra o parto em casa. Vinte e quatro horas depois da portaria, o COREN, dos enfermeiros, entra no MP querendo derrubar a portaria dos médicos! Qual a sua opinião sobre o tema? E o que a lei amparará, no caso de uma morte de mãe ou de bebê? Pois é.
Vivemos este ambiente: de uma sociedade complexa.
(Na pós da USP fui aluno de Margarida Kunsch na disciplina 'Comunicação Organizacional nas Sociedades Complexas - tema fundamental que todos deveríamos buscar estudar). O que agrada a alguns desagrada outros. Viver em sociedade é cada vez mais difícil. Operar um negócio, então... pensem nisso, meus colegas! Temos a única profissão regulamentada no campo da Comunicação Social e só nós é que podemos dignificar isto, difundindo esse diferencial, praticando-o e defendendo-o, pois afinal estaremos defendendo o princípio nobre da harmonia social - nosso mister sagrado. Não esperemos que publicitários ou jornalistas lutem pela melhor comunicação institucional, pois se os primeiros a constroem - enganosa, parcial e indutora de erros -, os segundos tem, apenas, o dever de desvelá-las, nunca de consertá-las ou melhorá-las em proveito da população. Só os errepês podem fazê-lo.
>
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Mensagens postadas são de responsabilidade de seus respectivos autores.