Estou produzindo um "curta" sobre o tema "2014 - Cem Anos de Relações Públicas no Brasil", e os depoimentos até agora são de cair o queixo.
Os mais antigos - todos - atuaram no nível de "board" das empresas
- como acontecia, e ainda acontece hoje, nos países mais desenvolvidos.
O que estragou tudo foi a "desimportância" da tal da Comunicação
"Social" no universo dos donos de empresas, seus gestores e
contratadores. Os gestores públicos sabiam do potencial da nossa
atividade, mas estavam sob o tacão militar.
Infelizmente, "comunicólogos"
- há exceções, como sempre - ficam atuando a vida inteira na periferia
das coisas que realmente importam no planeta (indústria, comércio,
política, gestão, finanças, emprego e renda). Relacionam-nos com
entretenimento e com a "perfumaria" do mundo. Influir na tomada de
decisões? Nunca! Talvez só na escolha do sabonete, ou do refrigerante,
ou do político "profissional".
RRPP seriam implementadas nas escolas de Administração,
em 1967, mas a ditadura não deixou e juntou todo mundo que escrevia
debaixo da Comunicação "Social" - conceito inventado décadas antes pela
Igreja Católica.
Só a independência (dada
finalmente em setembro de 2013) e uma aproximação radical com a
Administração e os Negócios poderá devolver os errepês ao "lugar" de
onde a área deriva ("business") e de onde nunca deveríamos ter saído (o
parecer de Caio Amaral - vencido no MEC - era neste sentido, contou
Edson Schettine de Aguiar, diretor por 21 anos do DEPCOM da UGF).
Quem lhes conta isto é alguém que
ministrou as disciplinas Administração e Assessoria 1 e 2 - por 24 anos
-, na Faculdade de Comunicação Social da UERJ, e agora ministra
Comunicação Organizacional na Faculdade de Administração e Finanças da
mesma universidade.
Alguém que se formou em um Instituto de Psicologia e Comunicação Social (o
"Social" era imposição da ditadura em 1971) que mantinha SOMENTE o
curso de Relações Públicas, fiel à tradição dos estudos de persuasão de
Edward Bernays e às práticas de David Ogilvy junto à opinião pública -
fontes e nascedouro da nossa área... E fundamentais!... Hoje "perdidas"
no nosso "comunicólogo" tempo e entregues, de mão-beijada, a engenheiros
de "software" e neurocientistas. Mas esta já é outra história.
#RRPP_SÃO_BUSINESS!
Evidências: a
pioneira escola multidisciplinar, na USP, foi batizada a partir de
parecer interno de antes de 1966 - Escola de Comunicações Culturais. Com
a pressão da ditadura, mudou sua denominação - em parte - para Escola
de Comunicações e Artes. Na UFRJ, onde o curso de Jornalismo tem origens
na escola de Ciências Jurídicas (!), foi criada a ECO - Escola de
Comunicação. Dois dos pontos de resistência mais conhecidos. Há outros.
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Valorizar os profissionais e não "flexibilizar" o registro profissional, aceitam o desafio?
Sou criadora do ‘evento’ (no Facebook) que quer lutar contra a flexibilização da profissão de relações-públicas. Criado em 2012, já conta com 1.500 participantes e tem incomodado quem luta pela flexibilização.
Já recebi questionamentos tipo:
- Quem é essa relações-públicas que está brigando contra a flexibilização? Algo por que estamos lutando há 15 anos?
- Será que ela não conhece a nossa história? Não leu sobre o assunto?
Não é verdade. Sou apaixonada pela minha profissão e nunca compraria uma briga sem conhecer o assunto, principalmente com o nosso Conselho, que admiro, e aprendi a valorizar. Ponto.
No entanto, penso que não é porque uma proposta é discutida há 15 anos, desde a Carta de Atibaia, que ela terá valor até hoje e não possa ser rediscutida. Afinal, quanta coisa mudou nesses últimos anos? E por que não reaprender sobre uma profissão que se redefine a cada dia?
Por que não discutir a valorização da profissão fazendo um bom diagnóstico que resultaria em ações com o único objetivo de melhorar a imagem da profissão, função que ninguém pode desempenhar melhor que nós mesmos?
Alterar a lei talvez seja um caminho. Ou, talvez, não. Mas acho inadmissível começarmos o debate a partir da premissa de flexibilização já!
Não dá!
O exercício da profissão de relações-públicas é privativa dos bacharéis na área, conforme previsto pela lei nº 5.377, de 11 de dezembro de 1967. Isso não pode mudar. E o Conferp foi criado para fiscalizar o exercício da profissão e punir os que atuam irregularmente, sem registro. Isso não deve mudar, em minha opinião.
Por que considerar que a nossa profissão pode ser exercida sem a formação superior específica? Coitado, então, de quem atua legalmente!
E temos centenas de matrículas abertas semestralmente em diversas faculdade do Brasil! Mexam-se estudantes!
Que tal abrirmos o leque de possibilidades de atuação dos profissionais diplomados ao invés de “abrir” nossa profissão para pessoas que não são bacharéis em Relações Públicas?
Vamos valorizar a prata da casa!
Alô, Conferp! Que tal juntarmos a experiência e o conhecimento dos profissionais tarimbados com as recentes experiências da nova geração? Aceita o desafio?
(*) Especialista em Gestão da Comunicação Institucional (Universidade Castelo Branco) e em Gestão Estratégica com ênfase em Pessoas (UFMG). Formou-se em Relações Públicas pela PUC-MG em 2003. Há oito anos é tenente relações-públicas da Força Aérea Brasileira e atua como Chefe de Comunicação Social em Belo Horizonte, além de ministrar aulas de Etiqueta Social e de Comportamento em Mídias Sociais na mesma instituição. Foi aprovada em primeiro lugar em dois concursos públicos para relações-públicas. Foi condecorada com a medalha do mérito Santos Dumont, do estado de Minas Gerais, pelos bons serviços prestados como RP da FAB.
Ontem, foi aprovada pelo Congresso Nacional – e encaminhada a sanção presidencial – lei que obriga farmácias e drogarias a terem um farmacêutico de plantão.
A lei baseia-se em um só ponto central: a questão da Responsabilidade Técnica (RT).
Responsabilidade Técnica é direito-dever das profissões regulamentadas. Como a nossa.
E o reconhecimento disto por todo o arco da sociedade é algo desejável embora difícil e complexo num país com as dimensões e diferenças regionais do Brasil, sobretudo nos quesitos “cidadania” e “direitos civis”.
Porém, a dificuldade não deve ser um entrave num ambiente que se quer civilizado, e fazer jus ao posto de oitava economia da mundo.
Esperemos a sanção presidencial desta lei. Acompanhemos o assunto.
Por analogia, muito interessa neste momento – espero que – final – das discussões sobre “flexibilização” da concessão do registro profissional de relações-públicas a não bacharéis em RP, momento em que se pode cogitar, ao invés de uma decisão interna ao Sistema Conferp-Conrerp (por Resolução Normativa), partir para a revisão da nossa Lei 5.377 no Congresso Nacional.
Lembremos, ancorados na realidade, que o dispositivo acima mencionado – ao largo de toda a discussão sobre real necessidade (hoje toda farmácia e toda drogaria têm que ter um Responsável Técnico) – levou 21 anos para tramitar!
Ora, sabemos que toda comunicação de caráter técnico tem que ter um relações-públicas como Responsável Técnico, o que tem potencial de empregar todos os perfis de RP que as IES puderem formar, ontem, hoje e sempre! E, cá entre nós, melhoraria em muito a comunicação de nossas empresas, entes públicos e organizações da sociedade civil.
Por que não direcionamos nossa energia, no Sistema Conferp-Conrerp, então, para fiscalizar e fazer valer o nosso direito legítimo, assegurado por lei (o que muitas categorias demandam no mesmo Congresso Nacional, há anos), ao invés de “abrir” nosso registro?
Essa é “a” questão.
E todos aqueles que estudam, ensinam, praticam, regulamentam e fiscalizam RP precisam se posicionar quanto a ela.
OBS.: A imagem acima é uma criação de Guilherme Alf e remete ao movimento #TODO_MUNDO_PRECISA_DE_UM_RP. Informe-se sobre. Participe. Colabore.
Em 2014, ao completar 100 anos, nunca mais as Relações Públicas serão as mesmas no Brasil.
[Do Observatório da Comunicação Institucional - em 17/07/2014].
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