Sim, a atividade de RP nasceu - nos Estados Unidos - de uma ideia brilhante - de Ivy Lee - que foi capturada imediatamente pela clientela mais abonada da época (estamos tratando da primeira década do século passado, há pouco mais de cem anos), os chamados 'robber barons' (barões ladrões), que, justamente por serem cidadãos de péssima reputação (e tal reputação advinha de más condutas), contratavam os pioneiros escritórios de RP para 'dourar a pílula' - sua imagem pessoal, de suas companhias e de suas famílias. Esta foi a transição da era 'o público que se dane' para o tempo de 'o público precisa ser informado' - que vivemos.
Duas guerras mundiais depois, depois da ONU, depois da Unesco, depois da tal da 'globalização', depois da OMC, 'robber barons' continuam por aí, mas a nossa atividade ganhou ética, ganhou legislação, ganhou substrato acadêmico-científico, e ganhou uma legião de admiradores do trabalho e dos estudos relacionados a RP. No Mundo e também no Brasil. Estamos em 2016 - há 110 anos do ato fundador da nossa profissão, e alguém chamar de relações públicas a atividade de suborno, de 'omertà', de 'compra da consciência de alguém', não pode mais ser classificado de desconhecimento. Ainda mais por um jornalista colega de bancos de faculdade (pelo menos até 2015 - dado que agora estamos separados pelo MEC). Isto pode, sim, ser chamado de má-fé.
É o que aconteceu hoje, n'O Globo, jornal editado por uma empresa que contou com um dos pais brasileiros da atividade em todos os tempos, Walter Poyares, autor de diversos livros ('Imagem Pública', 'Falo, logo sou' e 'O carisma da comunicação humana'), falecido em 2005, que assessorou a empresa por 50 anos.
Não é aceitável que uma empresa como a Andrade Gutierrez classifique 'obras' (sua razão de ser, de existir) como 'relações públicas'. Mesmo que doadas - porque isto pode perder-se no caso de ser mero suborno. E também não é aceitável que um jornalista não faça qualquer adendo esclarecedor, admitindo implícita e explicitamente que a prática de um crime possa ser classificada, 'normalmente', pelo criminoso, como de relações públicas.
Em minha opinião, cabe ao Conrerp1 (Região do Sistema Conferp-Conrerp em que fica a sede d'O Globo) oficiar a empresa jornalística com a argumentação - em defesa da profissão e de seus praticantes, registrados ou não - que, infelizmente, já tem pronta e farta, dirigida à mesma. O Globo presta mais uma vez este desserviço à opinião pública, malversando a área de formação e a profissão que escolhemos, que nos move e que nos honra.
Título da matéria: 'Relações Públicas'. Jornalista: Lauro Jardim. Página 2 - edição de 08/05/2016.
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